sábado, 26 de setembro de 2015

Classificação Internacional para a Segurança do Paciente da OMS – Caracterização Clínica

CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA

A grande função desta parte da Classificação Internacional para a Segurança do Paciente (CISP) é poder descrever o incidente em uma categoria específica, bem como descrever o que ele causou ao paciente, ou seja, é dar as características que dão o “diagnóstico” do incidente, bem como sua “repercussão clínica”. Sendo assim, aqui estão as duas categorias que são fundamentais quando pensamos no paciente, dentro da CISP.

Incidentes, apenas recordando, são eventos ou circunstâncias que poderiam resultar, ou resultaram, em dano desnecessário ao paciente. Há 4 grupos de incidentes:

Circunstância de Risco (reportable circumstance): é uma situação em que houve potencial significativo de dano, mas não ocorreu um incidente;

ü  Exemplo: a escala de enfermagem de uma UTI está defasada em um determinado plantão.

 “Quase – erro” (“near-miss”): incidente que não atinge o paciente;

ü  Exemplo: uma enfermeira iria colocar uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, mas percebe antes de instalar.

Incidente sem dano(no harm incident): um evento que ocorreu a um paciente, mas não chegou a resultar em dano;

ü  Exemplo: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, mas o sangue é compatível e o paciente não tem reação.

Incidente com dano = EVENTO ADVERSO (harmful incident): incidente que resulta em dano para um paciente (danos não intencionais decorrentes da assistência e não relacionadas à evolução natural da doença de base).

ü  Exemplo: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação febril.

Conhecendo os grupos de Incidentes, vamos aos itens da Caracterização Clínica da CISP, que são o Tipo de Incidente e os Desfechos do Paciente.

Tipo de Incidente


         Incidentes de uma natureza comum agrupados por características semelhantes.
         Existem 13 tipos de incidente (Tabela 1), que por sua vez, se abrem em sub-grupos que ajudam à entender o que se caracteriza em cada um dos 13 grupos, bem como a detalhar mais a classificação do tipo de incidente, facilitando o agrupamento, a análise e a divulgação (veja o Apêndice sobre Tipos de Incidentes).

Tabela 1 – Tipos de Incidente
1
Administração clínica
2
Processo clínico/ Procedimentos
3
Documentação
4
Infecção hospitalar
5
Medicação/ Fluídos endovenosos
6
Hemoderivados
7
Nutrição
8
Gases/ Oxigênio
9
Equipamento médico
10
Comportamento
11
Acidentes com o paciente
12
Estrutura
13
Gerenciamento de recursos/ Organizacional

Desfechos do Paciente


         Conceitos que dizem respeito ao impacto sobre o paciente, que é inteiramente ou em parte atribuível a um incidente.

         Inclui-se aqui 3 características. As duas primeiras são descritivas, por exemplo, o tipo de dano foi um trauma craniano em uma queda do paciente, o impacto social e econômico pode ser medido em função da sequela que ele teve e do tempo de reabilitação que precisará. Quanto ao Grau de Dano, este é variável e deve ser visto em função das informações da Tabela 2. Interessante ressaltar aqui que quando lembramos dos grupos de incidentes, as Circunstâncias de Risco, os “Quase-erros” e os Incidentes sem Dano sempre causam NENHUM dano, enquanto que os EVENTOS ADVERSOS devem ser detalhados entre leves, moderados, graves ou responsáveis por óbito.

ü  Tipo de Dano
ü  Impacto Social/Econômico
ü  Grau de Dano

Tabela 2 – Grau de Dano

NENHUM
Nenhum sintoma, ou nenhum sintoma detectado e não foi necessário nenhum tratamento.
LEVE
Sintomas leves, perda de função ou danos mínimos ou moderados, mas com duração rápida, e apenas intervenções mínimas sendo necessárias (ex.: observação extra, investigação, revisão de tratamento, tratamento leve).
MODERADO
Paciente sintomático, com necessidade de intervenção (ex.: procedimento terapêutico adicional, tratamento adicional), com aumento do tempo de internação, com dano ou perda de função permanente ou de longo prazo.
GRAVE
Paciente sintomático, necessidade de intervenção para suporte de vida, ou intervenção clínica/cirúrgica de grande porte, causando diminuição da expectativa de vida, com grande dano ou perda de função permanente ou de longo prazo.
ÓBITO
Dentro das probabilidades, em curto prazo o evento causou ou acelerou a morte.

Tabela 3 – Grau de Dano conforme o grupo de Incidentes

Circunstância de Risco
         Nenhum
“Quase-Erro”
         Nenhum
Incidente sem Dano
         Nenhum
Evento Adverso
         Leve
         Moderado
         Grave
         Óbito

Tabela 4 – Exemplos de Eventos Adversos conforme o Grau de Dano
Leve
Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação alérgica (coceira no corpo), que precisa de uma avaliação de um médico que prescreve uma dose de anti-alérgico, cessando os sintomas.
Moderado
Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação alérgica intensa que resulta em mais dois dias de internação para controle dos sintomas, sendo que esses dois dias não eram previstos dentro da causa inicial da internação.
Grave
Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação anafilática, que o leva a ir para a UTI sob intubação e ventilação mecânica.
Óbito
Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação anafilática, que o leva a ir para a UTI sob intubação e ventilação mecânica. O paciente desenvolve uma pneumonia na UTI e vai a óbito por choque séptico.

Esquema 1: Estrutura Conceitual – Caracterização Clínica
 
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REFERÊNCIAS


ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). The Conceptual Framework for the International Classification for Patient Safety v1.1. Final Technical Report and Technical Annexes, 2009. Disponível em: http://www.who.int/patientsafety/taxonomy/en/


Autor: Lucas Santos Zambon
Doutorado em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da USP.
Supervisor do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Diretor do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente.

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