Várias
atividades clínicas e administrativas podem ser realizadas por um serviço de
saúde para identificar, avaliar e reduzir o risco de lesões em pacientes,
membros do quadro de pessoas e
visitantes, bem como o risco de perdas à própria instituição. A efetividade
dessas atividades pode ser avaliada de maneiras independentes ou no contexto de
um programa de gestão da qualidade. Programas assim podem ser importantes no
fornecimento da documentação ao público quanto à natureza dos riscos em uma
instituição e a freqüência da ocorrência de diferentes tipos de lesões. Este
tipo de informação é também importante para autoridades, órgãos que financiam
as perdas decorrentes dos incidentes e agências financiadoras da prestação de
serviços.
Risco é o efeito da incerteza sobre os objetivos.
Segundo os especialistas em Gestão de Riscos Eliana Cardoso Vieira Quintão e
Eduardo Ramos Ferraz, “quando você se propõe a realizar um projeto, qualquer
situação que se desvie do objetivo pode ser um risco”. A atividade de saúde,
por sua natureza, oferece riscos, mas é possível ter gerência sobre eles
reduzindo ou, em alguns casos, eliminando a sua ocorrência.
Riscos são desvios. Desvios podem ser ameaças ou
oportunidades. Uma ameaça é um risco “negativo” e uma oportunidade é um risco
“positivo”. O segmento de saúde tem riscos inerentes à natureza da própria
atividade.
Gerenciar riscos pode significar reluzi-los,
eliminá-los ou transformá-los em oportunidades. Para isso, é fundamental o
envolvimento de todos em uma instituição, além, é claro, do desenvolvimento de
uma comunicação eficiente e de mão dupla com todas as partes interessadas:
colaboradores, clientes, fornecedores, fontes pagadoras e investidores, entre
outros.
Gerenciamento de riscos são as aplicações sistêmicas
e contínuas de políticas, procedimentos, condutas e recursos na avaliação de
riscos e eventos adversos que afetam a segurança, a saúde humana, a integridade
profissional, o meio ambiente e a imagem institucional (Feldman, 2004). Podemos concluir que Gerenciamento de Riscos é a tomada
de decisões relativas aos riscos ou a ação para a redução das conseqüências ou probabilidade
de ocorrência.
Riscos
corporativos
O risco está presente no dia-a-dia dos seres
humanos e das organizações, podendo gerar tanto perdas quanto oportunidades,
segundo cita o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2007).
Existem muitas definições para risco. No âmbito das
organizações, Marshall (2002, p. 19) define risco “como o potencial de eventos
ou tendências continuadas causarem perdas ou flutuações em receitas futuras”.
São quatro as dimensões para o risco corporativo,
segundo Duarte Jr. (2003): risco de mercado, risco operacional, risco de
crédito e risco legal.
Risco de mercado está relacionado a perdas por variações
ocorridas nos fatores de mercado, tais como taxas de juros, de câmbio e preços
de ativos mobiliários.
Risco operacional está voltado para fatores internos da
organização, e diz respeito à falta de controles que possam propiciar perdas
por falhas internas ou eventos externos.
Risco de crédito é aquele incorrido quando do descumprimento
de um contrato, causando a perda pela inadimplência.
Risco legal está associado à falta de amparo legal aos
contratos.
Gestão de riscos
corporativos
O gerenciamento de riscos corporativos é um
processo conduzido em uma organização pelo conselho de administração, diretoria
e demais empregados, aplicado no estabelecimento de estratégias, formuladas
para identificar em toda a organização eventos em potencial, capazes de
afetá-la, e administrar os riscos de modo a mantê-los compatível com o apetite
a risco da organização e possibilitar garantia razoável do cumprimento dos seus
objetivos (COSO II – ERM, 2004).
Gestão de Riscos: “atividades coordenadas para dirigir e
controlar uma organização no que diz respeito ao risco.
Tipos mais comuns de
risco
Cabem à instituição, diante do contexto no qual
está inserida, identificar quais são as naturezas dos riscos aos quais ela está
exposta. Estes podem ser, entre muitos outros: riscos estratégicos, ambientais,
sociais, civis, ocupacionais, de imagem, fiscais, financeiros e sanitários.
•
Acidentes
•
Ambiental/Ecológico
•
Consumidor
•
Financeiro
•
Imagem
empresarial
•
Incidentes
•
Legal
•
Meio ambiente
•
Ocupacional/trabalhador
•
Saúde
humana
•
Segurança
do Trabalho
Gestão
de Riscos na área da saúde
Apesar dos riscos serem inerentes à atividade, as
normas usadas para Gestão de Riscos não são específicas para a saúde, mas são
aplicáveis ao segmento. Deve envolver todos os colaboradores da instituição em
todos os níveis hierárquicos. Os ganhos são muitos: melhoria na governança e na
identificação de oportunidades e ameaças, gestão pró-ativa, aumento na
confiança das partes interessadas, o estabelecimento de uma base confiável para
tomada de decisão, alocação e utilização mais adequadas dos recursos, melhoria
na eficácia operacional e na eficiência, entre muitos outros benefícios. Em
outras palavras: aumento na probabilidade de atingir os objetivos.
O principal objetivo da Gestão de Riscos na área de
saúde é a redução dos eventos adversos que podem causar agravos nos pacientes,
ou seja, evitar lesões não intencionais que resultam em incapacidade temporária
ou permanente, morte ou prolongamento da internação, que tenham causa na
assistência à saúde e não no processo propriamente dito da doença. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) tem se esforçado para promover campanhas e
treinamentos dos profissionais com o objetivo de aumentar a segurança dos
pacientes.
Evento
Adverso
Conceito: “Complicações
indesejadas decorrentes dos cuidados prestados ao paciente, não atribuídas à
evolução natural da doença de base” (Gallotti, 2004).
Podemos classificar evento adverso como alterações
nas pessoas, economia, sistemas sociais e no meio ambiente, causados por
eventos naturais, gerados pela atividade humana ou pela combinação de ambos, que
demanda a resposta imediata da comunidade afetada.
O termo evento adverso comumente utilizado na saúde
é definido como qualquer ocorrência médica nova e imprevista em um paciente ou
indivíduo de investigação clínica que recebeu um produto farmacêutico e que não
precisa necessariamente uma relação causal com esse tratamento.
Estudos da década de 50 e
60 já apresentavam relatos de eventos adversos. Estima-se que 50 a 60% são
evitáveis.
Características:
·
Sintoma ou sinal;
·
Desfavorável;
·
Não intencional;
·
Doença temporalmente
associada à intervenção;
·
Não necessariamente
relacionada à intervenção.
Tendo isto evento adverso pode ser:
·
Uma nova enfermidade;
·
Uma piora de um sinal ou
sintoma da condição sob tratamento ou de uma enfermidade intercorrente;
·
Um efeito da medicação
em estudo ou não;
·
Uma combinação de dois
ou mais desses fatores.
Estatísticas internacionais afirmam que ¾ das
Reações Adversas são evitáveis. Dados estatísticos sobre causas iatrogênicas de
mortes revelam:
·
7.000 mortes por ano devido a erros medicamentosos em hospitais
·
20.000 mortes no ano por erros médicos em hospitais (excluindo erros na
medicação)
·
106.000 mortes no ano devido a Reações Adversas Medicamentosas (RAM)
Muitas reações adversas
medicamentosas são evitáveis se forem prestados os melhores cuidados médicos
suportados no melhor conhecimento médico adequadamente comunicado e utilizado.
Os erros estão na maioria das vezes estão
relacionados à erro de prescrição, erro de dispensação e erro de administração.
Analisando os erros de dispensa, podemos dizer que eles estão associados à
cálculo de dosagem, falha na interpretação da escrita do médico, falha na
compreensão verbal, dispensa da medicação errada.
Os erros médicos também contribuem com a
estatística, destacando os fatores: solicitação do diagnóstico errado, escolha
do tratamento inadequado, interações medicamentosas, monitorização terapêutica
inadequada e por fim, o baixo conhecimento dos efeitos adversos.
Eventos Adversos Graves é qualquer evento que
resulte em:
•
Morte;
•
Risco de vida;
•
Internação do paciente;
•
Incapacidade ou
limitação funcional;
•
Outros eventos médicos
relevantes.
Estudos de Harvard em
1991 apontavam que 4% pacientes sofriam algum tipo de dano no Hospital; 70% dos
eventos adversos provocavam uma incapacidade temporal e 14% dos incidentes eram
mortais.
O Instituto de Medicina em
1999 apontava que “erros médicos” causavam entre 44.000 e 98.000 disfunções a
cada ano nos hospitais dos Estados Unidos.
O Grupo de Trabalho sobre
a Qualidade da Atenção Hospitalar no ano de 2000 afirmou que um a cada dez pacientes dos hospitais
europeus sofriam danos evitáveis e efeitos adversos ocasionados por cuidados
recebidos.
Níveis de riscos
Freqüentemente o risco é expresso pela combinação
das conseqüências de um evento (gravidade) e a probabilidade de ocorrência (freqüência).
O nível de risco é resultante desta combinação: quanto maior a gravidade e freqüência
maior a graduação do risco.
As escalas de Gravidade:
1.
Leve – quando pode
causar um dano leve;
2.
Moderado – quando pode
causar um dano moderado;
3.
Grave – quando pode
causar um dano grave;
4.
Catastrófico – quando
pode causar a morte ou um dano catastrófico
Escala de Probabilidade:
1.
Raro – improvável de
ocorrer;
2.
Incomum – possível de
ocorrer;
3.
Ocasional –
provavelmente irá ocorrer;
4.
Freqüente – pode ocorrer
imediatamente ou num intervalo curto de tempo
Implementação da Gestão
de Riscos
• Mapear os processos e as suas atividades
críticas
• Identificar os riscos nas várias naturezas
aplicáveis
• Definir a gradação dos níveis de riscos
(probabilidade x gravidade)
• Definir as medidas preventivas para cada
risco identificado
• Definir as medidas corretivas para cada risco
identificado
• Estabelecer indicadores ou outras formas para
o monitoramento do risco
• Analisar o impacto das medidas de controle
implementadas
• Planejar ações de melhoria, quando
necessário, não se esquecendo da comunicação contínua com as partes
interessadas
Em 2010 a ANVISA, RDC 2, passou a exigir dos
estabelecimentos de saúde a gestão de riscos, tendo como premissas:
·
Sistematizar e monitorar
risco das tecnologias em saúde;
·
Reduzir e minimizar a ocorrência dos eventos
adversos;
·
Receber notificações dos eventos adversos e queixas
técnicas envolvendo as tecnologias em saúde.
As
possibilidades da gestão de riscos nas empresas são:
•
Aumentar a probabilidade de atingir os objetivos;
•
Encorajar uma gestão proativa;
•
Estar atento para a necessidade de identificar e
tratar os riscos através de toda a organização;
•
Melhorar a identificação de oportunidades e
ameaças;
•
Atender às normas internacionais, requisitos e
regulamentos pertinentes;
•
Melhorar o reporte das informações financeiras;
•
Melhorar a governança;
•
Melhorar a confiança das partes interessadas;
•
Estabelecer uma base confiável para a tomada de
decisão e o planejamento;
•
Melhorar os controles;
•
Alocar e utilizar eficazmente os recursos para o
tratamento dos riscos;
•
Melhorar a eficácia e a eficiência operacional;
•
Melhorar o desempenho em saúde e segurança, bem
como na proteção do meio ambiente;
•
Melhorar a prevenção de perdas e a gestão de
incidentes;
•
Minimizar perdas;
•
Melhorar a aprendizagem organizacional; e
•
Aumentar a resilência da organização.
Convém
que o processo de gestão de riscos seja:
•
Parte integrante da gestão;
•
Incorporado na cultura e nas práticas, e
•
Adaptado aos processos de negócio da organização.
A fase da identificação de riscos, no
processo de avaliação de riscos, é a listagem dos perigos que o processo,
departamento e ou empresa possui com as respectivas fontes de riscos. A
identificação deve ser crítica, pois um risco que não é identificado nesta fase
não será incluído em análises posteriores. Fica claro que essa é a fase estratégica,
pois se entendem os fatores de riscos, os fatores facilitadores da existência
do risco na empresa.
A fase de análise de riscos desenvolve a compreensão
dos riscos. Com a compreensão dos riscos é que a empresa poderá tomar decisões
a respeito de seu tratamento. Nessa fase, estima-se a probabilidade e
conseqüência do risco na empresa.
A análise
envolve a apreciação das causas e as fontes de risco, suas conseqüências
positivas e negativas, e a probabilidade de que essas conseqüências possam
ocorrer. A norma não especifica critérios e métodos, pois organização é a
responsável pela escolha, a qual deve respeitar as características do negócio.
A fase da avaliação de riscos visa
auxiliar na tomada de decisões - com base nos resultados da análise de riscos
-, sobre quais riscos necessitam de tratamento, bem como sobre qual a
prioridade para a implementação do mesmo. Na avaliação de riscos, que, envolve comparar
o nível de risco encontrado durante a análise de riscos, deve-se utilizar uma
Matriz de Riscos como ferramenta de gestão.
A fase de Tratamento de Riscos envolve um
processo cíclico composto por:
•
Avaliação do tratamento já realizado;
•
Decisão se os níveis de risco residual são
toleráveis;
•
Se não forem toleráveis, a definição e
implementação de um novo tratamento;
•
Avaliação e eficácia desse tratamento.
As opções
de tratamento são as universais:
•
Ação de evitar o risco;
•
Tomada ou aumento do risco – se o risco for
positivo;
•
Remoção da fonte de riscos;
•
Alteração da probabilidade;
•
Alteração das conseqüências;
•
Compartilhamento do risco; e
•
Retenção do risco por uma decisão consistente e bem
embasada.
A última
fase, monitoramento e análise crítica
é a fase da checagem ou das vigilâncias regulares. Podem ser regulares –
periódicas ou acontecerem em resposta a um fato específico. Deve haver uma
definição clara e direta das responsabilidades de quem vai realizar o
monitoramento e a análise crítica.
Efetiva gestão de
risco:
qualidade da prescrição, prevenção e luta contra a infecção, erro profissional,
insegurança de locais e práticas de pacientes e profissionais; revisão do quadro
legal relativo a acidentes, incidentes e erros clínicos.
Boa Prática de Governança significa deter
informação, adotar decisões transparentes e gerir o risco
a)
Assegurar o rigor e a
transparência nas decisões
b)
Deter informação de
qualidade, assessoria especializada e suporte
c)
Garantir a eficaz operacionalidade
do sistema de gestão de risco (estratégico; operacional e financeiro)
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