O conceito de evento sentinela foi introduzido por
Rutstein et alli. (1976) como a ocorrência de doença, invalidez ou morte
desnecessária. Como desnecessária ou prevenível o autor considerou as condições
que contam com tecnologia médica suficiente para evitá-las. Daí a tradução do
conceito inicialmente proposto de evento sentinela como a ocorrência de doença,
invalidez ou mortes evitáveis.
O mais importante na proposta é que a partir do
conhecimento de cada um destes eventos se produza uma investigação para
determinar como eventos similares podem ser prevenidos no futuro. Ao detalhar o
processo que culminou com a ocorrência do evento sentinela, tenta-se detectar
suas determinações, que podem estar desde o nível da alocação de recursos até o
de falhas de processo ou de falta de utilização dos serviços de saúde por parte
da população, e então implementar medidas corretivas.
O evento sentinela pode ser um caso único, ou ser
definido como um coeficiente que não deve ser ultrapassado. Existe uma lista
elaborada por um grupo de trabalho (Working Group on Preventable and Manageable
Diseases) que pretende incluir todas as doenças, invalidez e mortes evitáveis,
a partir da qual se pode eleger um conjunto de eventos sentinela (Rutstein,
1987).
Ampliando-se o conceito proposto, o evento sentinela pode
ser definido como algo que não deve ocorrer se o serviço de saúde funcionar
adequadamente. A partir de sua ocorrência desencadeia-se uma investigação para
a detecção das falhas que tornaram o evento possível, visando sua correção de
modo a garantir o funcionamento adequado do sistema de saúde.
Neste conceito ampliado podemos pensar também em eventos
sentinela que não sejam somente os propostos inicialmente, como por exemplo,
morte por qualquer causa não violenta sem assistência médica. Podemos também
pensar em eventos sentinela para avaliação de aspectos específicos do processo,
como uso de exames complementares, ou acesso, etc. A idéia básica é a coleta de
informação a partir do fato negativo, do que foi previamente definido como o
que não deve ocorrer.
Uma primeira vantagem da técnica de eventos sentinela
para avaliação da qualidade da atenção médica é de ordem operacional, isto é,
seu menor custo em termos de coleta de dados em relação a um detalhamento
global da situação. Outras vantagens são: obrigar uma definição clara dos
objetivos dos serviços de saúde em relação às condições de saúde da população e
ser capaz de detectar ocorrências na população não coberta de fato pelos serviços
de saúde. Ao definir um conjunto de eventos sentinela, os gerentes dos serviços
de saúde passam a explicitar objetivos destes serviços em nível da saúde da
população, mudando, portanto de uma óptica centrada na demanda para outra
centrada na população. Ao se estabelecer, por exemplo, morte infantil por
doenças diarréicas como evento sentinela propõe-se sua não ocorrência, e não
apenas assistir adequadamente a demanda de crianças com diarréia. Por outro
lado, ao se implantar um sistema de informação que detecte os óbitos na
comunidade podem-se detectar eventos desconhecidos dos serviços de saúde, isto
é, casos não incluídos na demanda do serviço por qualquer motivo.
Tomemos um exemplo, a título de exercício, para avaliar o
quanto esta técnica nos traz de avanço na compreensão da situação em relação
aos sistemas de informação de rotina: a assistência pré-natal, ao parto, o
acompanhamento de crescimento e desenvolvimento, e a assistência à criança
doente. Todas estas atividades fazem parte de uma cadeia que tem como um dos
seus objetivos a redução da mortalidade infantil. A organização do sistema de
informação existente dificilmente nos permite conhecer como se dá a articulação
destes diferentes elos da cadeia. Tomando as mortes em menores de um ano como
eventos sentinela, pode-se através da investigação de cada caso avaliar como se
dá tal articulação, e quais as falhas que estão ocorrendo.
Tentando um exemplo concreto, imaginemos a ocorrência de
um caso de tétano neonatal na periferia de um grande centro urbano. O sistema
de informação, no que diz respeito à assistência à gravidez e ao parto, nos dá
uma estimativa da cobertura da assistência pré-natal e ao parto e alguns
indicadores frágeis de sua qualidade, como a concentração de consultas
pré-natais. A investigação do evento sentinela — ocorrência de tétano neonatal
— pode nos trazer informações não só quanto a possíveis falhas do processo de
assistência médica, quanto permitir detectar grupos não assistidos, não
cobertos. Neste exemplo, ocorreram ao menos duas falhas: mãe não imunizada
contra tétano e contaminação do coto umbilical. Pode se tratar de paciente
faltosa ao pré-natal (a Unidade de Saúde responsável teria tomado providências?
Tal prática é parte de sua rotina?) que ao mesmo tempo não foi bem orientada
nos cuidados com o recém-nato (rotina da maternidade?).
Mas pode se tratar também de parto domiciliar atendido
por parteira em um caso sem nenhuma consulta pré-natal, indicando uma
sub-população não coberta pelo sistema de saúde (a população não coberta pelo
sistema de saúde na periferia dos grandes centros é certamente pequena, o que
faz com que seja difícil detectá-la). Se refletirmos um pouco, nota-se que, no
exemplo acima, para a detecção destes pontos de estrangulamento do sistema de
saúde a partir da óptica tradicional do sistema de informação seria necessário
um grande aumento do detalhamento da informação e a realização de inquéritos
com base populacional, de muito maior custo do que a vigilância dos eventos
sentinela.
A técnica de eventos sentinela parte, portanto da
constatação da existência de uma falha no produto para a investigação das
falhas de processo que contribuíram para o efeito negativo. Do mesmo modo que a
técnica de marcadores é uma forma de detecção de problemas a serem corrigidos.
Segundo a ONA (Organização
Nacional de Acreditação), o evento sentinela é qualquer evento imprevisto que
pode resultar em dano para os clientes externos e internos da organização.
Para o CQH (Compromisso
com a Qualidade Hospitalar), eventos sentinelas, são fatos indesejáveis no
atendimento médico hospitalar com potencial de repercussão na mídia e/ou
denúncia formal.
Qualquer variação significativa do processo caracterizada por risco
aumentado de resultado adverso sério deve ser objeto de investigação.
Se a recorrência da mesma variação do processo puder ser associada a ³ 50% de chance de
resultado adverso sério, esta variação deve ser considerada como evento
sentinela.
Sua ocorrência requer atenção imediata. É resultado de ações erradas:
•
Medicamento administrado em dose inadequada;
•
Cirurgia realizada em membro errado.
Ou de ausência de ação:
•
Medicamento prescrito não administrado;
•
Morte fetal por demora na realização de cesárea.
Sua ocorrência gera dois desafios:
•
Compreender como e por que o evento ocorreu;
•
Prevenir a ocorrência do mesmo evento ou evento similar no futuro.
Embora o evento sentinela seja uma variação inesperada do processo,
variação é inerente a todo processo. Para reduzir a variação, é necessário
determinar a causa da mesma.
Causas comuns de variação:
•
Inerente a todo processo, é conseqüência da forma como o processo foi
desenhado;
•
O processo que varia apenas devido a causas comuns é dito como ESTÁVEL.
Causas especiais de variação:
•
Circunstâncias ou eventos não usuais difíceis de serem antecipadas e que
podem resultar em variação marcante;
•
Cirurgia realizada no local errado.
Mal funcionamento de equipamento freqüentemente é resultado de causas
comuns de variação.
A causa direta ou proximal do evento sentinela pode ser um fator não
controlável. Ex.: Óbito per-operatório devido à falta de energia elétrica e não
funcionamento do gerador durante a cirurgia: fator não controlável pela equipe
cirúrgica.
Classificação de acordo com 3 fatores críticos:
•
Processo: Ex.: erros de
medicação, erros de diagnóstico, erros relacionados a equipamentos etc;
•
Resultado: Óbito, ausência
de seqüela, seqüela temporária, seqüela permanente; Etiologia ou causalidade
(causa raiz). Ex.: deficiência no treinamento dos profissionais, procedimento
inadequado de administração de medicamentos etc.
Vigilância com base em Evento Sentinela
Esse tipo de fonte de informação pode ser utilizado em sistemas de
vigilância de agravos que sejam identificados indiretamente por meio do que tem
sido denominado evento sentinela de saúde.
O termo "evento sentinela" tem sido aplicado para eventos que
podem servir de alerta aos profissionais da saúde a respeito da possível
ocorrência de agravos preveníveis, incapacidades ou de óbitos possivelmente
associados à má qualidade de intervenções de caráter preventivo ou terapêutico,
que devem ser aprimorados.
Feldman & Gerber examinaram todos os certificados de óbitos de
indivíduos que haviam morrido na cidade de Nassau, Estado de Nova York, com
idades entre 18 e 74 anos, durante o período de janeiro de 1980 a dezembro de
1982. Os autores distribuíram os atestados conforme a Classificação
Internacional de Doenças (CID) e, utilizando uma lista de ocupações
profissionais e de tipos de indústrias, classificaram os óbitos segundo relação
de causas associadas ou determinadas por atividades profissionais.
Essa metodologia permite, ainda que com ressalvas, avaliar a importância de determinadas doenças profissionais ou associadas à ocupação como causa de óbito.
Notificação de Evento Sentinela
A notificação de eventos sentinelas é fundamental para o processo de
melhoria contínua da qualidade, melhoria da assistência, para a segurança do
paciente e para a segurança dos colaboradores.
A ocorrência de eventos sentinelas sinaliza a necessidade de melhorias
no processo da organização e requer investigação imediata de suas causas.
A notificação dos eventos tem como objetivos: a melhoria dos processos
assistenciais, a execução de medidas preventivas e visa garantir a segurança do
paciente.
A ocorrência de um evento sentinela interpreta-se como um sinal de que a
qualidade dos serviços pode estar necessitando de melhoria, e, conseqüentemente,
estruturas e processos assistenciais estejam causando ou aumentando o risco de
dano aos clientes.
Lista de Possíveis Eventos Sentinela
.
- Mortes imprevistas de pacientes (elevação incidental da mortalidade/surtos de mortalidade);
- Cirurgia em paciente errado;
- Cirurgia em parte errada do corpo;
- Mortes relacionadas à falta/demora no atendimento;
- Mortes ou danos relacionados com procedimento de contenção mecânica de paciente;
- Suicídio de paciente internado;
- Troca de bebê após o nascimento;
- Rapto infantil;
- Agressão/estupro/homicídio;
- Incêndio;
- Explosão;
- Surtos de Infecção hospitalar;
- Agressão/ estupor/ Homicídio;
- Surtos de acidentes com pacientes (internação);
- Surtos de acidentes de trabalho;
- Queda e Troca de bebes;
- Fuga de paciente;
- Infiltração de quimioterápico;
- Material sem esterilizar aberto em sala cirúrgica;
- Morte materna.
- Mortes imprevistas de pacientes (elevação incidental da mortalidade/surtos de mortalidade);
- Cirurgia em paciente errado;
- Cirurgia em parte errada do corpo;
- Mortes relacionadas à falta/demora no atendimento;
- Mortes ou danos relacionados com procedimento de contenção mecânica de paciente;
- Suicídio de paciente internado;
- Troca de bebê após o nascimento;
- Rapto infantil;
- Agressão/estupro/homicídio;
- Incêndio;
- Explosão;
- Surtos de Infecção hospitalar;
- Agressão/ estupor/ Homicídio;
- Surtos de acidentes com pacientes (internação);
- Surtos de acidentes de trabalho;
- Queda e Troca de bebes;
- Fuga de paciente;
- Infiltração de quimioterápico;
- Material sem esterilizar aberto em sala cirúrgica;
- Morte materna.
Ronaldo Damaceno
Gestor de Qualidade
CRA-SP: 6-000074
RD Consultoria
CRA-SP: 8649
www.rdconsultoria.com.br
rd@rdconsultoria.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário